sexta-feira, 5 de junho de 2015

Vieira e Jesus: As causas do desentendimento



Luis Filipe Vieira já tinha deixado o aviso em mais do que uma ocasião: é necessário baixar a massa salarial do clube. Foi por essa razão que jogadores fundamentais como Garay ou Guilherme Siqueira, por exemplo, deixaram o Benfica no Verão de 2014 e foi á luz dessa necessidade que o presidente dos encarnados tentou convencer Jesus a renovar contrato. A proposta apresentada não agradou ao treinador, que nos últimos anos se foi dando ao luxo de poder passar ao lado dos produtos da formação. Uma realidade que está prestes a mudar.
O projeto delineado por Vieira quando tomou conta dos destinos do clube, em Novembro de 2003, era claro e dividia-se em três fases. 
A primeira dizia respeito ao saneamento financeiro de um clube em sérias dificuldades, que já tinha vendido património e que enfrentava grandes obstáculos para se financiar junto da banca. A segunda era vocacionada para as infra-estruturas, surgindo o novo estádio da luz, a academia do Seixal e o museu Cosme Damião como principais ex-libris. A terceira apontava para o reforço da equipa de futebol, com o intuito de a aproximar do patamar competitivo do FCPorto e de voltar aos títulos com regularidade.
Uma atrás da outra, as etapas foram sendo cumpridas. E o projeto para o futebol ganhou uma dimensão extra a partir de 2008 com a contratação de jogadores com o peso de Pablo Aimar, Javier Saviola, Ramires, Di Maria- e mais tarde Salvio, Witsel, Matic, Garay, Markovic, entre outros. Jorge Jesus espremeu o talento de um plantel muito capaz e devolveu o Benfica aos títulos, mas o presidente dos encarnados nunca escondeu que este esforço de investimento era transitório. 
Quando questionado, no final de 2014, sobre o rumo a trilhar pelo futebol profissional e sobre a necessidade de o treinador apostar nos produtos da formação foi taxativo:"Não vai ter outra alternativa. Não vai haver espaço para outras contratações. Houve espaço até crescerem os outros jogadores do Benfica. Agora, começando eles a crescer, não haverá espaço para isso".
Durante muito tempo, Jesus socorreu-se circunstancialmente do talento de André Gomes e da polivalencia de André Almeida, mas defendeu-se sempre argumentando que apostava nos jovens, si, mas sem olhar a nacionalidades. Os exemplos são muitos, de Di Maria a Rodrigo, de Oblak a Markovic, até Talisca, mais recentemente. Mas esta não era a visão de Vieira, que nunca escondeu a vontade de construir uma equipa que servisse de base á seleção nacional. Jesus gostava de comprar jóias que pesavam na contabilidade do Benfica.
E se a este reajuste, com mais ou menos vontade e dificuldade, o técnico estaria disposto a ceder, á revisão em baixa do salário de quatro milhões de euros(brutos) por ano terá reagido de forma irredutível. Acabado de se sagrar bicampeão, naquele que foi o 10º troféu alcançado na Luz, Jesus terá considerado que o seu mérito profissional deveria ser recompensado de outra forma. E encontrou, do outro lado da segunda circular, quem estivesse disposto a ir ao encontro das suas pretensões.


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